Escondo-me debaixo da cama, assustado com a situação. Meus pés estão frios como os de um defunto no Polo Sul, descalços, cansados após tanto correrem. O medo faz com que minha respiração fique mais densa, mas ainda assim, tento fazer com que esta seja silenciosa, pois não quero que ele me ache.
Estive fugindo dele por mais ou menos meia-hora. Fui pego de surpresa por sua entrada em minha casa, e, ao ouvir seus gritos, evidentemente percebi que não era uma criatura amigável e muito menos inofensiva.
Antes de entrar debaixo da cama, consegui ter um vislumbre rápido de sua aparência física. Ele era fisicamente muito superior a mim, podendo vencer-me facilmente em uma disputa corpo-a-corpo, ou até me matar, se quisesse. Sua força era demonstrada pela distância que os móveis percorriam após serem golpeados pela criatura.
Vivo sozinho, em uma casa afastada da cidade. Criaturas como esta volta e meia aparecem por aqui, coisas surreais que parecem ter saído de histórias de horror lovecraftianas. Coisas que ninguém acreditaria. Periodicamente sou visitado por esses seres violentos, mas nunca sou corajoso o suficiente para enfrentá-los, o que faz com que eu, que já tenho personalidade reclusa, seja literalmente recluso, me escondendo enquanto espero os visitantes indesejados irem embora.
Eles me visitam desde criança, na época em que morava com meus pais, em uma casa completamente diferente, em outro estado. Naquela época, muitas vezes, conseguiam me pegar. Agrediam meus pais, e, principalmente, me agrediam, fazendo menção em me matar, o que me deixava em prantos. O que me salvava, muitas vezes, era, após que meu fôlego acabasse de tanto chorar, encolher-me, prender a respiração e fingir que eu havia morrido. É impressionante quanto o medo infantil foi-me útil naqueles tempos. Infelizmente, agora, não tenho os mesmos culhões que eu tinha quando pequeno, e esconder-me ao primeiro sinal das criaturas me parece uma opção muito mais agradável.
Depois de adulto, me mudei, na esperança de que os invasores monstruosos fossem exclusividade daquela cidade. Fui para outro estado, o mais longe possível, e nos primeiros dias, tudo corria bem. Porém, depois de algum tempo, eles voltaram a aparecer.
Ouço o invasor bufar, cansado, e bater em algo que, pelo barulho que fez ao se espatifar na parede, soava muito como meu criado mudo. Seus passos pesados se afastam, pouco a pouco, até que finalmente tomo coragem para levantar-me lentamente, como um roedor alerta, e aproximar-me da janela de meu quarto. Olho para baixo e vejo a criatura ir embora, insatisfeita. Seu nariz adunco, olhos atentos como os de uma ave de rapina, e estrutura alta, porém ligeiramente curvada.
Algumas das criaturas são bem antropomórficas, como a que acaba de sair de minha casa, mas outras são tão monstruosas que chega a ser cartunescas. Lembro de uma que apresentava características lupinas, que atacara-me quando eu era bem novo.
Respiro, vitorioso, uma lufada de ar fresco. Sinto-me aliviado por ter conseguido escapar vivo, mas vivo em agonia, pois sei que, mais cedo ou mais tarde, as criaturas voltarão. Elas parecem ir gradativamente ficando mais zangadas, apesar de aparentemente menos vorazes. Fico pensando se mais alguém é ciente da existência desses invasores peculiares, e se pretende fazer alguma coisa em relação aos mesmos. Sei que terei aturar-los por mais uma vasta gama de anos. Mesmo que eu me mude novamente, sinto como se eles fossem me perseguir, para onde quer que eu vá. Mas tenho esperanças. Tenho esperanças, pois, sem elas, eu não poderei viver.
Recomponho-me, tirando a poeira das roupas, enquanto olho para a bagunça ao meu redor. Pondero se a mesma criatura retornará ou não ainda hoje. Eu realmente não sei. Mas sei que será um longo dia.
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